A rua sem nome – Uma história de Natal
(Texto adaptado de Etna de Lacerda)
Como estava se aproximando
do Natal, eu resolvi sair pelas ruas da cidade. Queria ver o colorido das luzes
que piscavam sem parar.
As praças e os grandes
centros de comércio exibiam lindos presépios. O presépio é uma forma de os
homens lembrarem o nascimento de Jesus. Numa caminha simples está o menino
Jesus, ao lado de seus pais, Maria e José, os três reis magos e os animais.
Nessas figuras, os homens representavam como Jesus nasceu, há mais de dois mil
anos.
Andei por muitas ruas
luminosas, até que encontrei uma RUA SEM NOME e sem brilho.
Você deve estar pensando
que não morava ninguém nela, não é? Nada disso! A RUA SEM NOME tinha várias
casinhas. Apesar de juntinhas, seus moradores viviam de portas fechadas e quase
não se conheciam.
De manhã bem cedinho, cada
um colocava diante de seu portão material descartável para Bené recolher.
(Bené entra)
BENÉ: Olá, pessoal. Eu sou o Bené. Eu moro
aqui na RUA SEM NOME com os meus pais. Todos os dias eu recolho o material descartável
das casas para vender no mercado dos recicláveis. Assim eu posso ganhar um
dinheirinho e ajudar em casa. Acreditam que eu sou a única pessoa que conversa
com todo mundo aqui na rua?
(Bené sai e entra a
Belinha)
Na
primeira casa da rua que Bené passava, morava Belinha, uma menina muito
educada, mas que vivia muito triste.
BELINHA: Eu adoro brincar no balanço. Mas o
meu era muito velho e foi ficando fraquinho, fraquinho...até quebrar. Se alguém
pudesse consertar meu balanço um dia...
(Belinha coloca as revistas
na frente da casa sai rápido)
Belinha
deixava revistas e jornais velhos para Bené recolher. Depois corria e fechava a
porta de sua casa, pois não sabia fazer amizade.
(Bené entra para recolher
as revistas e sai; Vitorino entra)
Na
segunda casa morava Vitorino, um senhor magrinho e idoso.
VITORINO: Ufa, estou exausto. Todos os dias
tenho que varrer as folhas que caem dessa árvore... e são tantas folhas! Se eu
tivesse força suficiente, faria uma boa poda; assim, não ficaria tão cansado de
ter que varrer tantas folhas...
(Vitorino coloca garrafas
na frente da casa e logo sai)
Vitorino
colocava vidros e garrafas vazias para Bené recolher. Depois fechava bem a sua
porta para se sentir seguro e protegido em casa, pois já era velhinho e morava
sozinho.
(Bené entra para recolher
as garrafas e sai; Donana entra)
Na
terceira casa residia Donana. Uma senhora simpática, mas que vivia sozinha, sem
alegria.
DONANA: Me sinto muito sozinha, não tenho
ninguém para conversar comigo. Eu até olho na caixinha do correio para ver se
alguém me mandou ma cartinha, mas nunca encontro nada. Ninguém escreve para
mim...
(Donana coloca papel na
frente da casa e sai)
Donana colocava muitas
folhas de papel para Bené recolher. Eram cartas que ela escrevia, mas não tinha
para quem mandar. Depois, muito triste, entrava em sua casa. Nunca falava a
ninguém do seu desejo de ter uma família.
(Bené entra para recolher os
papéis e sai; Julião entra)
Na quarta casa morava
Julião, um homem alto e fortão, mas muito zangado.
JULIÃO: Minha vida é correr atrás dessas galinhas.
Não aguento mais! Todos os dias é a mesma coisa: elas aproveitam a abertura do
muro para fugir. Fico muito aborrecido com isso. Eu até queria consertar o
muro, mas nunca me sobra dinheiro.
(Julião coloca garrafas de
plástico na frente da casa e sai correndo e preocupado)
Ele colocava garrafas
plásticas para Bené recolher e não conversava com ninguém, pois não encontrava
tempo: estava sempre preocupado com suas galinhas fujonas.
(Bené entra para recolher
as garrafas e as coloca junto com os outros materiais que recolheu)
E
lá no fim da RUA SEM NOME, morava Bené, o menino que recolhia os materiais
descartáveis para vender no Mercado dos Recicláveis.
BENÉ: Sou muito contente com meu trabalho,
pois através dele consigo ajudar a manter a minha rua sempre limpinha. Mas tem
uma coisa que me deixa preocupado: as pessoas aqui da rua que nunca se falam!
Todos vivem tristes e solitários. Seria tão bom se fossem amigos!
Aproximava-se
o Natal, época de todos lembrarem o amor ensinado por Jesus. E Bené teve uma
grande ideia para que todos praticassem o amor.
O
menino descobriu que Vitorino era um bom carpinteiro.
(Bené vai até a casa de
Vitorino e bate na porta. Vitorino abre)
BENÉ: Bom dia, Seu Vitorino. Será que o
senhor poderia me ajudar a construir um balanço para presentear a Belinha no
Natal? O balanço dela só vive quebrado, pois é muito fraquinho.
VITORINO: Claro que sim, Bené. Vamos fazer um
balanço bem bonito e forte, assim ela poderá brincar por muito tempo sem que
ele estrague.
(Os dois começam a
trabalhar juntos)
Juntos, construíram um
balanço de madeira bem forte com a corrente resistente. Na noite de Natal,
Vitorino daria de presente à Belinha.
(Bené e Vitorino saem)
Bené
sabia que Belinha lia muitos livros e revistas. Por ler muito, ele imaginou que
ela devia escrever muito bem.
(Bené vai até a casa de
Belinha e bate na porta. Ela abre)
BENÉ: Olá, Belinha. Notei que você lê
muitas coisas. Que tal se você escrevesse uma cartinha para a dona Donana?
BELINHA: É pra já, Bené! Vou fazer um cartão
de Boas Festas bem bonito, aí você coloca na caixinha de correio dela na noite
de Natal. Tenho certeza de que ela irá gostar!
E
assim fizeram.
(Belinha entrega o cartão a
Bené. Os dois saem)
A
seguir, Bené procurou Donana e perguntou como poderia ajudar Julião.
(Bené vai até a casa de
Donana e bate na porta. Ela abre)
BENÉ: Bom dia, dona Donana. Queria ajudar o
Julião a consertar o muro da casa dele, para as galinhas não fugirem mais. A
senhora tem alguma ideia do que podemos fazer para ajudá-lo?
DONANA: Tenho sim, Bené! Eu tenho um
dinheirinho guardado há muito tempo, mas nunca sei como usar. Vou agora mesmo
até a loja de materiais de construção, para comprar as coisas que o Julião
precisa para consertar o muro.
(Donana vai até a loja,
compra os materiais e sai)
E
desta forma, Julião receberia o que precisava e ele mesmo faria o trabalho.
Em
seguida, o menino foi conversar com Julião.
(Bené vai até a casa de
Julião e bate na porta. Ele abre)
BENÉ: Olá, Julião, como vai?
JULIÃO: Tirando as galinhas fujonas, tudo
bem. E você?
BENÉ: Estou bem também. Sabe, estive
pensando em cortar os galhos da árvore da casa de seu Vitorino, pois estão
muito grandes. Mas os galhos são pesados e eu sou pequeno, não consigo
alcançar. Então vim saber se você me ajudaria com isso.
JULIÃO: Posso ajudar sim, Bené. Ah, tive uma
ideia! Vou cortar os galhos e também varrer as folhas que estão acumuladas.
Assim ele não terá tanto trabalho.
BENÉ: Ótima ideia!
(Bené sai. Julião corta os
galhos, varre as folhas e sai)
Finalmente
chegou o Natal.
(Belinha e Vitorino entram)
Belinha
recebeu de Vitorino o balando lindo e resistente, que jamais vira nas lojas.
BELINHA: Obrigada, seu Vitorino! Minhas tardes
agora serão bem mais divertidas!
(Os dois se abraçam
felizes)
(Donana entra e verifica a
caixinha de correio)
Donana viu que tinha algo
na sua caixinha de correio.
DONANA: Que bela surpresa! Um lindo cartão de
Natal escrito pela Belinha!
(Donana abraça Belinha como
se fosse de sua família e agradece)
(Julião entra e Donana
entrega a sacola com os materiais de construção)
Julião recebeu o material
doado por Donana e tratou logo de reconstruir seu muro.
JULIÃO: Muito obrigado, dona Donana! Agora
posso ficar mais tranqüilo, pois minhas galinhas não fugirão mais do quintal.
Julião
não estava mais com cara de zangado.
(Julião abraça Donana, os
dois sorrindo)
Na
noite de Natal, uma linda árvore iluminava com suas luzes coloridas a RUA SEM
NOME. Era a árvore em frente à casa de Vitorino. A bela surpresa que Julião fez
ao simpático velhinho.
Vitorino
agradeceu e os dois se abraçaram como velhos amigos.
(Vitorino e Julião se
abraçam)
Agora,
as casinhas da RUA SEM NOME estavam todas de portas abertas recebendo cada um
que vinha agradecer. Bené também ficou feliz e recebeu abraços e o carinho de
todos. Ele não quis nenhum presente, pois o melhor presente ele já tinha
recebido: todos se tornaram grandes amigos.
(Todos se abraçam)
Naquela
noite feliz, os moradores da pequenina rua aprenderam o verdadeiro sentido do
Natal: a paz e o amor entre todos os seres humanos. A RUA SEM NOME tinha agora
um brilho diferente de todas as ruas que eu vi.
Depois
daquele Natal, Bené sugeriu que a RUA SEM NOME tivesse um nome. Por causa da
alegria que ficou no lugar da tristeza, pela união que substituiu a solidão de
cada um, pela paz que fez o medo ir embora, pela satisfação em contar sempre
com um amigo, pela felicidade que cada um sentiu ao fazer o bem, o nome
sugerido foi:
TODOS: RUA DO BEM.
(Todos mostram um cartaz/placa
com o nome da rua)